quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

(Re)construir integrando elementos de madeira originais





Fonte: Raul Sousa Cardoso, Arq - Casa em Abragão – Recuperação de habitação uni familiar




Muitos dos casos de reconstrução e reabilitação de pequenas construções permitem que seja tirado partido da beleza e carater dos elementos de madeira originalmente utilizados na estrutura da construção.



Para que a integração desses elementos seja feita da melhor forma e mais segura, impõe-se a avaliação antecipada das suas reais condições de aplicação e estado de conservação.



A avaliação global de estruturas em madeira exige um vasto conhecimento e experiência dos profissionais, nem sempre fácil de encontrar actualmente.



A falta de formação académica adequada à boa interpretação de estruturas e métodos tradicionais de construção, ou a ausência de experiência dos carpinteiros profissionais, dificulta, chegando mesmo a impossibilitar, o bom aproveitamento dos elementos que nos chegam.



Estas limitações levam a que, na maioria das vezes, os elementos que poderiam ser recuperados ou reforçados, acabem demolidos por segurança e falta de outros conhecimentos.



De uma forma geral, e dependendo da utilização estrutural ou não dos elementos em madeira em pequenas intervenções, quando a estrutura apresenta bom estado de conservação, será aceitável que sejam apenas repostas as condições de segurança originais, reparando os elementos deteriorados.



Antes da tomada de decisão sobre a intervenção a realizar deverá ser feita uma inspecção preliminar cuidada. Esta inspecção resultará noutra mais detalhada e aprofundada, que defina concretamente intervenções mais profundas e drásticas, repondo as boas condições de segurança.



As estruturas de madeira podem referir-se apenas às utilizadas em coberturas ou pavimentos mas também, e ainda, às utilizadas em paredes estruturais e de compartimentação.



A titulo de exemplo referem-se das “paredes de gaiola”, tão tradicionais na nossa construção Pombalina. As “paredes de gaiola” são normalmente paredes estruturais, num misto de madeira e alvenaria de pedra, em que a armação de madeira, ficava embebida no maciço de alvenaria, à face da parede interior. Garantia-se assim que, em caso de sismo, se o edifício desmoronasse, se manteria na íntegra a gaiola tridimensional.




Paredes de gaiola – construção pombalina

Na inspecção preliminar procura-se essencialmente:

- Indícios de má conservação dos elementos; 

- Sintomas associados à presença de humidade como manchas, bolor ou cheiro a mofo;  

- Identificação da localização estrutural dos elementos – próximo de redes de águas, beirados ou pontos singulares da cobertura, zonas mal ventiladas em cave, etc.

À inspecção preliminar visual podem associar-se então ensaios estruturais não destrutivos que pretendem avaliar as condições de segurança da estrutura.

A avaliação das condições de segurança da estrutura pretende entender genericamente a estrutura original e o seu enquadramento no todo, de modo a depreender eventuais alterações que se pretendam realizar. Pretende ainda identificar eventuais erros, que possam ter sido cometidos originalmente, para que os mesmos possam ser corrigidos.

Esta inspecção mais detalhada e técnica permitirá definir entre uma intervenção de reabilitação ou reforço, ou ambas em simultâneo, dependendo da zona a que se aplique.

Nos casos em que sejam identificados agentes biológicos, no ataque aos elementos de madeira, é fundamental travar a sua progressão, impedindo-a preventivamente.
Genericamente poderá promover-se a secagem dos elementos (quando aplicável), a sua limpeza e eventual tratamento com insecticida e/ou fungicida ou ainda a aplicação de preservador da madeira.

Apenas após a identificação e correcção destes problemas é que as reparações e substituições de outros elementos deverão ser realizadas.

De uma forma simplificada, na reabilitação de estruturas em madeira, deve garantir-se:

- antes da reabilitação global da estrutura são aplicados os tratamentos de eliminação e prevenção de focos de humidade e/ou agentes biológicos;
- ventilação dos elementos, evitando o contacto da madeira com outros que retenham humidade ou impeçam a ventilação;
- a manutenção dos elementos existentes nas condições estruturais que já detenham, evitando alterar a sua relação em relação ao serviço que estejam a desempenhar (ou seja, introduzir restrições ou eliminá-las, de modo a exigir mais do que elemento do que inicialmente);
- a manutenção da boa visualização ou acesso das estruturas intervencionadas para que possam ser realizadas inspecções periódicas que garantam a segurança do todo.


Fonte: Empresa teambox, “Recuperação de e remodelação de casa tradicional com mais de 200 anos”: Reaproveitamento de todos os barrotes de madeira de carvalho original. Reaproveitamento de todas as madeiras de carvalho da casa, e reutilização em portas, alçapões e portões.


Em resumo, a realização de inspecções mais ou menos detalhadas, com recurso a ensaios não destrutivos, não dispensa a avaliação de um profissional competente, quer no desenvolvimento da inspecção, quer na interpretação dos resultados e definição da intervenção a desenvolver.

Deixo ainda uma ideia "naturalmente integrativa"

e bem... este é um caso em que a "madeira" original não necessitaria propriamente de "inspecção prévia" estrutural...(já a rede de raizes seria toda uma outra história...)

Artigo de:Ana Pereira
Senior Civil Eng|Reinforcement and Rehabilitation of Structures|Microsoft Project

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